Picarelli, professor há três anos na Facitec |
Picarelli: Eu comecei
fazendo peças infantis. Depois, a secretaria de cultura do GDF abriu uma
inscrição para um espetáculo gigantesco, na época foi muito bafafá, mais de mil
inscritos (de atores) da peça chamada Tamanduá San, do Hamilton Vaz Pereira.
Ele é um diretor carioca que era do Asdrúbal
trouxe o Trombone. E eu passei nesse teste e curti, curti bastante. A gente
foi pra BH [Belo Horizonte], fizemos duas apresentações em Brasília e o
Hamilton foi o cara que né... Eu falei:
Olha, eu vou pro Rio de Janeiro, vou fazer teatro lá e eu vou te procurar e
tal... E ele abriu as portas pra mim lá no Rio de Janeiro mostrando as
pessoas... Eu fui pro Rio de Janeiro morar lá, propriamente para ser ator e
comecei a trabalhar fazendo teatro, tablado...
Aí, um ou outro me ajudando ‘olha, é aqui o caminho das pedras...’ E
acabou que eu comecei a fazer parte de vários testes. Comecei a fazer parte de
vários grupos, e a partir disso eu comecei a fazer vários testes, que começaram
a render coisas boas para mim, frutos - no caso, um bocado de peças. No Rio de
Janeiro quando você pega uma peça infanto-juvenil ou mesmo adulto, você já tem
um retorno melhor, já consegue sobreviver, porque você vai ter um X fixo
durante a semana...
Aí começou a abrir
as portas pra mim. Numa dessas, eu fiz uma peça com a Fernanda Rodrigues e com
o André Marques (que era o Mocotó) e aí fiquei sabendo de um teste na Malhação.
E aí eu fiz o teste e passei, foi muito legal, gratificante. Foi o primeiro
trabalho de televisão mesmo. Na verdade eu já tinha feito vários comerciais,
por causa desses testes que a gente tem e tal...
Web Focas: Há muita diferença entre o acesso a este ramo hoje
e antigamente?
Picarelli: Vou ser muito sincero com você, Luiz. O acesso, para
entrar nesse mercado, é muito complicado, se você tiver um talento nato, você
entra em qualquer lugar, isso em qualquer profissão da sua vida.
Se você é ator e vai pro Rio de Janeiro para tentar
mostrar um trabalho. Rapaz, só se você fizer um teste MARAVILHOSO, você vai na
mão do diretor que tem que está. Porque
até você conhecer o diretor, que é o cara que escolhe o elenco, bicho, tem uma
‘rede’ em baixo dele, de propósito para te obstruir até chegar nele. Ou você
faz uma peça e entra em cartaz pras pessoas verem porque teatro é a vera.
Teatro o cara faz porque é bom. Não tem corte, não tem erro, o teatro é ali na
hora. Se você faz uma peça maravilhosa, o cara vai falar:’Poxa, esse cara é bom
pra fazer este tipo de personagem’ e é isso que acontece.
Web Focas: Qual a sua avaliação sobre o contato com grandes
celebridades como Dira Paes, Angélica e Cláudia Rodrigues?
Picarelli: Esse contato é do mesmo jeito que eu estou
conversando com você. Celebridade é a mídia que fala, as pessoas famosas
trabalham com imagem e é lógico que elas sempre vão dar uma de gostosinho, uma
de superior, ‘ah, vocês me querem’. Além do que, isso é alimentado por quem faz
isso, pelo público.
Picarelli em Caça Talentos. Imagem YouTube |
Web Focas: Qual o trabalho mais marcante? Alguma história que
queira compartilhar?
Picarelli: Foi com a Luiza Tomé, um comercial. Foi um dia muito
complicado, foi um dos primeiros dias que eu trabalhei como ator, eu estava
muito nervoso, eu tinha bipe e estava nublado, eram três da manhã e eu não consegui
dormir. Quatro da manhã eu pegava no sono e acordava assustado ‘tocou ou não
tocou?’, eu tava desesperado, eu não consegui dormi naquela noite achando que
ia chover, que não tinha como, porque já tinha adiado duas vezes a gravação. Aí
abriu um sol danado e a gente ficou gravando só movimento, lá sete, oito da
manhã. A Luiza Tomé só chegou lá às 11h da manhã e foi tão legal o comercial
que depois passou na televisão, ganhou nota dez no jornal, saiu no jornal do
SBT, falando da rixa entre o carioca e o paulista. Eu fazia um paulista que
quando via a Luiza Tomé ficava empolgado. A maioria das coisas foram cacos que
eu fiz na hora e o diretor aceitou e foi muito bom. Eu lembro que depois, logo duas
três semanas que estava bombando direto no Rio de Janeiro, eu ganhei convite da
Luiza Tomé, ela estava numa peça, ela estava fazendo Tieta, era uma
celebridade...
A diferença de cachê foram alguns zeros. Ela ganhou
uns R$80.000,00 e eu ganhei R$800,00, uma coisa assim né...
Ela me deu convite, eu fui lá no camarim e fui
recebido muito bem... Foi um trabalho muito bacana, esse foi para mim o que
mais marcou. Que mais me deu retorno.
Web Focas: Como entrou no mundo acadêmico?
Picarelli: O mundo acadêmico? Bicho, boa pergunta! Eu comecei
a dirigir, aí fiz a faculdade de cinema, estava no Rio de Janeiro. Eu fiz
cinema na Estácio e fiz uma Pós-Graduação em Publicidade. Para ganhar dinheiro
eu comecei a trabalhar numa agência de Publicidade. Eu fazia o RTVC (Rádio TV
Cinema) na agência. Eu dirigia os comerciais, roteirizava, ia pra rádio e fazia
o roteiro pra rádio, fazia tudo isso da agência. Era o único setor que fazia
isso. E ia trabalhar final de semana direto, editar também. Tudo que você
imagina eu fazia. Isso me deu uma experiência muito boa e eu com a Pós-Graduação.
Chegou uma hora que eu falei: ‘Chega. Está na hora de voltar para Brasília. O
que estou fazendo aqui posso fazer em Brasília’.
O ator já não estava tão aflorado, eu terminei um projeto
de escola que eu estava fazendo, eu já estava meio desestimulado então voltei pra
Brasília. Em pouquíssimo tempo, graças a Deus, em quatro dias eu comecei dando aula
do que eu fazia que era documentários, comerciais... E foi ampliando, graças a
Deus. Na FACITEC eu fiquei um período aqui saí no semestre seguinte e depois eu
voltei e já faz três anos que eu estou direto. Comecei no Unicesp, que agora
sou coordenador. E foi uma surpresa que a vida proporciona pra gente. Jamais
iria imaginar que eu ia ser professor na minha vida e jamais ia imaginar que ia
gostar. Porque cada semestre é diferente. Entra turma, sai turma e a gente vê
um ou outro que se destaca, três, quatro, cinco por turma, no máximo. Aí gente
que vem quase pronto, gente que vem cru. O legal é você ver uma pessoa crua que
está chegando e você ver que aquela pessoa consegue desenvolver muito mais do
que imaginava. Isso é gostoso de fazer. Isso é gratificante, ver uma pessoa que
está querendo aprender e aprende e faz. Tem umas que passam pela faculdade e
você nem sabe o nome. Mas tem os que ficam, permanecem, você curte o trabalho,
você entende, dá opinião, troca ideia... É minoria, mas isso é bacana, ainda
mais por causa da minha disciplina, ela é tão bacana por ser audiovisual,
trabalha sempre com vídeo, criação, quer pegar câmera, fazer trabalho. Então eu
deixo bem solto o pessoal criativo. Eu gosto da disciplina por causa disso.
Web Focas: A entrada nesse ambiente (acadêmico) tem relação
com o afastamento dos palcos e da telinha?
Picarelli supervisiona trabalhos audiovisuais de acadêmicos. |
Web Focas: Saltos
ornamentais
Picarelli: Esporte que me
manteve, esporte que me deu coragem, o esporte que me fez homem, o esporte que
me mostrou o que é disciplina, o esporte que me afastou das drogas (nunca
pensei nisso, mas você se afasta naturalmente porque você está bem com o
esporte). O esporte é uma das coisas mais importantes do ser humano, ele tem
que ter.
Web Focas: O que pensa e planeja para o futuro?
Picarelli: O primeiro é casar, ter mais uns cinco filhos [já
tem uma filha do primeiro casamento], não tenha dúvida disso! Obviamente fazer
alguma coisa pessoal: fazer um filme; continuar o professor mais algum tempo, eu
ainda sinto tesão, gosto de fazer isso, é o gostar com necessidade. Eu preciso
e gosto isso que é bom. Trabalhar no que você gosta é muito importante, talvez
até achar o que você gosta é complicado, demorou um tempo para eu achar que
professor é legal. Por isso que eu sempre falo dos sonhos, no primeiro dia de
aula eu falo dos sonhos. Então assim, tem muita coisas interessantes que eu
acho que é importante a gente ver. Lógico que um futuro a gente pensa que
sempre vai querer um casa própria, se sustentar pelo seu trabalho, ter um carro
bom, é uma coisa que todo mundo quer e eu não fujo muito desse padrão, não. Eu
só queria que os alunos participassem mais, entendessem cedo que quanto mais cedo
entrar na cabeça dele que a coisa é muito mais séria que ele imagina. Você pode
errar aqui na faculdade, não errar fora. Erre aqui na faculdade, não fora.
Decidir a profissão que você quer mais cedo, trabalhar o mais cedo, vai ser o
retorno melhor para vocês [alunos]. Até os 35 anos eu fui um andarilho, não quis
nem saber, fiz o que queria da minha vida, graças a Deus que fui bem. Agora eu
já encostei, já está mais interessante, já achei a pessoa que eu quero, estou
desenvolvendo um futuro para próximo dela. Por Luiz Lopes
Meu grande amigo e tbm um baita ator, saudades de ti amigo
ResponderExcluirMeu grande amigo e tbm um baita ator, saudades de ti amigo
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