segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Entrevista - Alexandre Picarelli

Picarelli, professor há três anos na Facitec
Alexandre Antonio Picarelli, professor de Linguagem Audiovisual e Linguagem Televisiva na FACITEC, abre o baú e conta, como se fosse ontem, as histórias de seu início de carreira como ator. Ele conta também como chegou às salas de aula após participar de vários trabalhos no teatro, na televisão e no cinema, como Malhação, Caça Talentos e Celeste e Estrela, por exemplo.
Web Focas: Como começou a carreira como ator?
Picarelli: Eu comecei fazendo peças infantis. Depois, a secretaria de cultura do GDF abriu uma inscrição para um espetáculo gigantesco, na época foi muito bafafá, mais de mil inscritos (de atores) da peça chamada Tamanduá San, do Hamilton Vaz Pereira. Ele é um diretor carioca que era do Asdrúbal trouxe o Trombone. E eu passei nesse teste e curti, curti bastante. A gente foi pra BH [Belo Horizonte], fizemos duas apresentações em Brasília e o Hamilton foi o cara que né...  Eu falei: Olha, eu vou pro Rio de Janeiro, vou fazer teatro lá e eu vou te procurar e tal... E ele abriu as portas pra mim lá no Rio de Janeiro mostrando as pessoas... Eu fui pro Rio de Janeiro morar lá, propriamente para ser ator e comecei a trabalhar fazendo teatro, tablado...  Aí, um ou outro me ajudando ‘olha, é aqui o caminho das pedras...’ E acabou que eu comecei a fazer parte de vários testes. Comecei a fazer parte de vários grupos, e a partir disso eu comecei a fazer vários testes, que começaram a render coisas boas para mim, frutos - no caso, um bocado de peças. No Rio de Janeiro quando você pega uma peça infanto-juvenil ou mesmo adulto, você já tem um retorno melhor, já consegue sobreviver, porque você vai ter um X fixo durante a semana...
Aí começou a abrir as portas pra mim. Numa dessas, eu fiz uma peça com a Fernanda Rodrigues e com o André Marques (que era o Mocotó) e aí fiquei sabendo de um teste na Malhação. E aí eu fiz o teste e passei, foi muito legal, gratificante. Foi o primeiro trabalho de televisão mesmo. Na verdade eu já tinha feito vários comerciais, por causa desses testes que a gente tem e tal...

Web Focas: Há muita diferença entre o acesso a este ramo hoje e antigamente?
Picarelli: Vou ser muito sincero com você, Luiz. O acesso, para entrar nesse mercado, é muito complicado, se você tiver um talento nato, você entra em qualquer lugar, isso em qualquer profissão da sua vida.
Se você é ator e vai pro Rio de Janeiro para tentar mostrar um trabalho. Rapaz, só se você fizer um teste MARAVILHOSO, você vai na mão do diretor  que tem que está. Porque até você conhecer o diretor, que é o cara que escolhe o elenco, bicho, tem uma ‘rede’ em baixo dele, de propósito para te obstruir até chegar nele. Ou você faz uma peça e entra em cartaz pras pessoas verem porque teatro é a vera. Teatro o cara faz porque é bom. Não tem corte, não tem erro, o teatro é ali na hora. Se você faz uma peça maravilhosa, o cara vai falar:’Poxa, esse cara é bom pra fazer este tipo de personagem’ e é isso que acontece.

Web Focas: Qual a sua avaliação sobre o contato com grandes celebridades como Dira Paes, Angélica e Cláudia Rodrigues?
Picarelli: Esse contato é do mesmo jeito que eu estou conversando com você. Celebridade é a mídia que fala, as pessoas famosas trabalham com imagem e é lógico que elas sempre vão dar uma de gostosinho, uma de superior, ‘ah, vocês me querem’. Além do que, isso é alimentado por quem faz isso, pelo público.
Picarelli em Caça Talentos. Imagem YouTube
A Angélica sempre me tratou bem em todas as vezes. Em todos os jogos do Brasil na Copa de 98 foi todo mundo assistir na casa dela e ela tratou a gente super bem, fui muito legal, muito bacana. Uma vez fui numa festa que vi gente para caramba e, me apresentar quem eu sou? Nada, eles não se interessam, é como se fosse uma pessoa qualquer, ali você está dentro do meio. O povo é que alimenta essa coisa de ‘ai, lindo!’. Mas esse contato é o melhor possível, sem problema.
Eu estava com um time de primeira, não tenha dúvida.

Web Focas: Qual o trabalho mais marcante? Alguma história que queira compartilhar?
Picarelli: Foi com a Luiza Tomé, um comercial. Foi um dia muito complicado, foi um dos primeiros dias que eu trabalhei como ator, eu estava muito nervoso, eu tinha bipe e estava nublado, eram três da manhã e eu não consegui dormir. Quatro da manhã eu pegava no sono e acordava assustado ‘tocou ou não tocou?’, eu tava desesperado, eu não consegui dormi naquela noite achando que ia chover, que não tinha como, porque já tinha adiado duas vezes a gravação. Aí abriu um sol danado e a gente ficou gravando só movimento, lá sete, oito da manhã. A Luiza Tomé só chegou lá às 11h da manhã e foi tão legal o comercial que depois passou na televisão, ganhou nota dez no jornal, saiu no jornal do SBT, falando da rixa entre o carioca e o paulista. Eu fazia um paulista que quando via a Luiza Tomé ficava empolgado. A maioria das coisas foram cacos que eu fiz na hora e o diretor aceitou e foi muito bom. Eu lembro que depois, logo duas três semanas que estava bombando direto no Rio de Janeiro, eu ganhei convite da Luiza Tomé, ela estava numa peça, ela estava fazendo Tieta, era uma celebridade...
A diferença de cachê foram alguns zeros. Ela ganhou uns R$80.000,00 e eu ganhei R$800,00, uma coisa assim né...
Ela me deu convite, eu fui lá no camarim e fui recebido muito bem... Foi um trabalho muito bacana, esse foi para mim o que mais marcou. Que mais me deu retorno.

Web Focas: Como entrou no mundo acadêmico?
Picarelli: O mundo acadêmico? Bicho, boa pergunta! Eu comecei a dirigir, aí fiz a faculdade de cinema, estava no Rio de Janeiro. Eu fiz cinema na Estácio e fiz uma Pós-Graduação em Publicidade. Para ganhar dinheiro eu comecei a trabalhar numa agência de Publicidade. Eu fazia o RTVC (Rádio TV Cinema) na agência. Eu dirigia os comerciais, roteirizava, ia pra rádio e fazia o roteiro pra rádio, fazia tudo isso da agência. Era o único setor que fazia isso. E ia trabalhar final de semana direto, editar também. Tudo que você imagina eu fazia. Isso me deu uma experiência muito boa e eu com a Pós-Graduação. Chegou uma hora que eu falei: ‘Chega. Está na hora de voltar para Brasília. O que estou fazendo aqui posso fazer em Brasília’.
O ator já não estava tão aflorado, eu terminei um projeto de escola que eu estava fazendo, eu já estava meio desestimulado então voltei pra Brasília. Em pouquíssimo tempo, graças a Deus, em quatro dias eu comecei dando aula do que eu fazia que era documentários, comerciais... E foi ampliando, graças a Deus. Na FACITEC eu fiquei um período aqui saí no semestre seguinte e depois eu voltei e já faz três anos que eu estou direto. Comecei no Unicesp, que agora sou coordenador. E foi uma surpresa que a vida proporciona pra gente. Jamais iria imaginar que eu ia ser professor na minha vida e jamais ia imaginar que ia gostar. Porque cada semestre é diferente. Entra turma, sai turma e a gente vê um ou outro que se destaca, três, quatro, cinco por turma, no máximo. Aí gente que vem quase pronto, gente que vem cru. O legal é você ver uma pessoa crua que está chegando e você ver que aquela pessoa consegue desenvolver muito mais do que imaginava. Isso é gostoso de fazer. Isso é gratificante, ver uma pessoa que está querendo aprender e aprende e faz. Tem umas que passam pela faculdade e você nem sabe o nome. Mas tem os que ficam, permanecem, você curte o trabalho, você entende, dá opinião, troca ideia... É minoria, mas isso é bacana, ainda mais por causa da minha disciplina, ela é tão bacana por ser audiovisual, trabalha sempre com vídeo, criação, quer pegar câmera, fazer trabalho. Então eu deixo bem solto o pessoal criativo. Eu gosto da disciplina por causa disso.


Web Focas: A entrada nesse ambiente (acadêmico) tem relação com o afastamento dos palcos e da telinha?
Picarelli supervisiona trabalhos audiovisuais de acadêmicos.
Picarelli: A experiência em agência é que me deu oportunidade também de sobreviver através do professor. Eu fiquei muito nervoso nos primeiros meses, nervoso mesmo. Não sabia se estava fazendo bem ou fazendo mal, mas eu tinha um feedback dos alunos. Realmente eu era uma cara muito chato, exigia a atenção o tempo todo e depois comecei a relaxar um pouco e descobri uma coisa. É muito melhor você ensinar para quem quer aprender. E você sabe que tem aluno que passa pela faculdade. Esse aí o que eu tenho que fazer? ‘Olha, bicho, fica na sua que eu fico na minha, venha às aulas, aprende isso aqui, vai ser cobrado através de prova, mas eu vou te falar: Você poderia ser muito melhor do que você é agora’. E essas pessoas tem que absorver, porque o professor está ali para ensinar. Eu falo isso com orgulho e com uma vantagem, cara. Porque minha disciplina é gostosa.


Web Focas: Saltos ornamentais

Picarelli: Esporte que me manteve, esporte que me deu coragem, o esporte que me fez homem, o esporte que me mostrou o que é disciplina, o esporte que me afastou das drogas (nunca pensei nisso, mas você se afasta naturalmente porque você está bem com o esporte). O esporte é uma das coisas mais importantes do ser humano, ele tem que ter.



Web Focas: O que pensa e planeja para o futuro?
Picarelli: O primeiro é casar, ter mais uns cinco filhos [já tem uma filha do primeiro casamento], não tenha dúvida disso! Obviamente fazer alguma coisa pessoal: fazer um filme; continuar o professor mais algum tempo, eu ainda sinto tesão, gosto de fazer isso, é o gostar com necessidade. Eu preciso e gosto isso que é bom. Trabalhar no que você gosta é muito importante, talvez até achar o que você gosta é complicado, demorou um tempo para eu achar que professor é legal. Por isso que eu sempre falo dos sonhos, no primeiro dia de aula eu falo dos sonhos. Então assim, tem muita coisas interessantes que eu acho que é importante a gente ver. Lógico que um futuro a gente pensa que sempre vai querer um casa própria, se sustentar pelo seu trabalho, ter um carro bom, é uma coisa que todo mundo quer e eu não fujo muito desse padrão, não. Eu só queria que os alunos participassem mais, entendessem cedo que quanto mais cedo entrar na cabeça dele que a coisa é muito mais séria que ele imagina. Você pode errar aqui na faculdade, não errar fora. Erre aqui na faculdade, não fora. Decidir a profissão que você quer mais cedo, trabalhar o mais cedo, vai ser o retorno melhor para vocês [alunos]. Até os 35 anos eu fui um andarilho, não quis nem saber, fiz o que queria da minha vida, graças a Deus que fui bem. Agora eu já encostei, já está mais interessante, já achei a pessoa que eu quero, estou desenvolvendo um futuro para próximo dela. 

Por Luiz Lopes

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